Análise Cognitiva em Ergonomia
Até antes do advento do eSocial,
poucas empresas e profissionais falavam ou demonstravam interesse pela
Ergonomia, passando então a modificar esta preocupação devido as obrigações que
o eSocial deixou vigente e observamos que este interesse se volta não por se
preocuparem com a importância da Ergonomia, mas pela cobrança do sistema,
embora esta obrigatoriedade já seja presente e poucos a atendem de forma
correta e assertiva.
Devido a busca de informações e
conhecimento para esta demanda e diversos cursos com cargas horárias variadas e
conteúdos diversos forma aparecendo, indo desde aqueles que seriamente abordam
uma grade bem técnica a outros que se resumem no aprendizado de utilização de
metodologias, ferramentas, com análise biomecânica e algumas até
organizacionais para a elaboração de uma AET como se somente se isto fosse
suficiente. Não vamos entrar na questão do certo ou errado quanto a estes
cursos, pois existem Pós-Graduações em Ergonomia, onde a carga horária e a grade
irá qualificar o profissional como Ergonomista de forma diferenciada. Nesse
contexto, ainda nestes mesmos cursos, pouco se vê a abordagem de conteúdos
referentes à ergonomia organizacional, a questão multidisciplinar e
principalmente sobre a ergonomia cognitiva.
E sobre a ergonomia cognitiva é
que também algumas AET´s não realizam uma análise mais aprofundada e objetiva,
devido à ausência de um olhar profissional especializado, pois lembramos que a
Ergonomia envolve uma análise multidisciplinar. E ao abordarmos a analise
cognitiva, devemos nos ater a informações que estão relacionadas aos aspectos
mentais da atividade de trabalho de homens e mulheres, jovens e idosos,
operadores, gerentes e demais níveis hierárquicos existentes na empresa.
Aristóteles já nos deixou claro a
importância desta análise em uma de suas falas, “É da memória que o homem adquire experiência, porque as numerosas
memórias de uma mesma coisa eventualmente produzem o efeito de uma experiência
única”. Afinal, os problemas que mais lesionam e são graves no trabalho não
estão somente relacionados aos impactos quanto aos elementos biomecânicos como
muito se observa e apontam, pois, a ergonomia quando surgiu, foi para dar conta
dos problemas físicos dos trabalhadores e acabou incorporando as questões
organizacionais, cognitivas e também as psicossociais.
A ergonomia cognitiva tem em seu enfoque o ajuste entre a habilidades e limitações humanas às máquinas, as tarefas, aos ambientes, mas também observando o uso de certas faculdades mentais que iram permitir operar, ou seja, raciocinar e tomar decisões no trabalho a ser executado, restringindo por enquanto a um raciocínio operatório, seus determinantes e suas propriedades, ainda que nossa mente seja capaz de muitas outras coisas. Quando entramos no plano filosófico, é importante se reconhecer a dimensão cognitiva na atividade laboral e o fato que o ergonomista não pode se contentar somente em entender os processos de trabalho apenas nos seus aspectos físicos, tornando assim sua análise incompleta e insuficiente.
No plano social, o estudo
cognitivo está inserido numa superação da concepção clássica que pressupõe a
divisão entre trabalho manual e trabalho mental; vejamos exemplos onde uma
vendedora de uma loja de roupas, passando por revista mental pelo que existe no
estoque, ajuda a cliente na escolha de uma peça; quando você leva seu carro em
uma oficina, o mecânico por meio de sinais que o veículo apresenta já consegue
ter um pré diagnóstico do que poderá ser o problema; em uma linha de produção,
um operador percebe que ao alterar uma posição no seu posto, replaneja seu
trabalho, a montagem passa a ser mais rápida e menos penosa; a empregada
doméstica quando inventa refeições com o que a dispensa possui naquele momento,
sem saber que praticou a gestão da penúria, surpreendendo a todos com pratos
bem diferentes, desconstruindo uma falácia que para certos trabalhos o
trabalhador é desqualificado e que com a inclusão de novas tecnologias este
quadro se agravaria ainda mais, pois com a ergonomia cognitiva podemos
identificar com grande efetividade no que consiste a qualificação requerida
para ocupar uma posição de trabalho em uma empresa.
No plano tecnológico, é
imprescindível o estudo cognitivo quanto ao processo de evolução que as tarefas
vêm passando, inclusive com a indústria 4.0, pois essa tecnologia precisa ser
bem entendia e a operação assimilada, projetando assim os artefatos físicos, e
anexos a estes o conjunto de suposições de como interagimos mentalmente com os
recursos técnicos, sendo conhecida esta situação como “mentefatos”, que
significa a construção de artefatos adicionados aos dispositivos técnicos e que
nos ajudam a usá-los corretamente, como por exemplo a interação que temos hoje
com os aparelhos celulares.
Por meio de um estudo ergonômico,
a avaliação de trabalhos que estão sendo exercidos em condições inadequadas, e
com a análise do ponto de vista cognitivo, complementada pelas análises do
campo físico, podemos afirmar que não pode haver a dissociação do ser humano de
sua holística pessoal, nem ignorarmos outras dimensões existentes na execução
da atividade, do aspecto biomecânico e organizacional, tornando um conjunto que
em cada forma de interação terá uma resposta do trabalhador na aquisição de
informações, alterações referentes a ambiências físicas nos postos de trabalho,
atividades em condições extremas, trabalhos em horários atípicos, a condição do
próprio envelhecimento biológico, as cargas de trabalho e estresse, a exigência
mais rigorosa nas competências profissionais e seu desenvolvimento, conflitos
de comunicação no ambiente de trabalho, problemas sociais quanto a segurança do
emprego, que acabam por influir e pesar na reação cognitiva do empregado quanto
a se adaptar a estes fatores.
Por fim temos: “Quando representantes de profissões diferentes assumem visões conflitantes de uma mesma situação, é pouco provável que resolvam sua disputa fazendo referência a fatos ou julgamentos da eficácia relativa das ações. Com suas diferentes maneiras de conceber a situação, eles tendem a prestar atenção a conjuntos diferentes de fatos, ver os mesmos fatos de formas diferentes e fazer julgamentos da eficácia baseados em tipos diferentes de critérios. No entanto, se quiserem chegar a um acordo, eles devem tentar cada um penetrar no ponto de vista do outro. Eles devem tentar descobrir o que faz com que cada um concentre-se preferencialmente em um grupo de fatos ou critérios, explicite para si próprio as estratégias cognitivas tácitas e descubra como entende a concepção do outro acerca da situação” (SCHÖN, 2000, p. 164).
Na concepção de uma análise
preliminar de situações de trabalho, prevista já na nova NR 17 ou na análise
ergonômica do trabalho, quais seriam as ferramentas e metodologias apropriadas
e o como trabalhar os resultados?
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