UMA ROTINA DE TRABALHO

 


Para entendermos o que é uma Rotina, primeiro devemos saber o que quer dizer essa palavra.

Rotina, na sua Etimologia, deriva da palavra francesa “routine”. Rotina quer dizer “Hábito”, “Costume”, “Conjunto de instruções criadas para realizar uma tarefa específica”[1].

Elaborar uma rotina de trabalho torna-se muitas vezes um tormento para alguns profissionais, cuja organização e o planejamento são inexistentes ou bem limitados, considerando que não exista um padrão já definido na organização.

Uma rotina de trabalho envolve, antes de tudo, o profissional conhecer a organização onde trabalha. Esse conhecimento deve extrapolar a simples concepção de que só se deve observar o que é pertinente à Segurança do Trabalho.

Deve o profissional adquirir o conhecimento de todo o processo de trabalho da organização, pois, por meio desse conhecimento, é que este profissional irá realmente poder mapear todos os perigos e riscos, todas as necessidades e, então elaborar sua rotina de trabalho.

Hoje o profissional em Segurança do Trabalho está à frente de um novo panorama, que envolve a necessidade de conhecimentos de gerenciamento, logística, produção, enfim, expandir seu universo com o estudo de outras áreas além da Segurança do Trabalho e assim adquirindo conhecimentos além dos que obteve em sua formação profissional.

Uma rotina de trabalho bem elaborada tem como base uma estruturação anterior ao seu planejamento, visto que, se não temos estruturado em nossa organização as documentações necessárias atendendo as NR´s aplicáveis, dificilmente será possível criar uma rotina de trabalho e consequentemente um gerenciamento que seja funcional e atenda de forma ampla ao controle no cumprimento das ações que manterão a organização cumpridora das obrigações referentes ao Ministério do Trabalho e Emprego e à Previdência Social.

Retomando nossa linha de raciocínio, quando apresentamos que uma rotina de trabalho não consiste unicamente em inspeções nas áreas de trabalho, estamos apontando um fato comum, porém, muitas vezes, não tratado de forma devida.

Como assim?

Somente a inspeção como única rotina de trabalho tornaria o profissional um “fiscal” limitado em todo momento a “tomar conta” se está tudo “OK” quanto à Segurança do Trabalho na organização.

Ao se utilizar dessa inspeção, o profissional acaba registrando “Desvios”, e demonstra a todos na organização que há uma irregularidade que deve ser corrigida, utilizando formulários e apresentando relatórios e, mesmo assim, acaba em um círculo vicioso, muitas vezes sem muitos resultados, visto que, na maioria das ocorrências, são os mesmos casos e, em algumas situações, até os mesmos setores, serviços e trabalhadores.

O mais importante é que sempre os “Desvios” são identificados e eliminados, sim ou não, certo? Mas seria somente isso?

Temos, então, uma pergunta simples:

Ao verificar, em uma inspeção em toda a organização ou em um setor específico, que não foi identificado “nenhum Desvio”, o que você faz?

Exatamente essa situação é também muito comum, porém muitos, não sabendo o que fazer, acabam respondendo a essa pergunta da seguinte forma:

- “Quando não identifico nada, quer dizer que está tudo bem!”

Ótimo, realmente a resposta é bem clara quanto à situação, mas faltou um procedimento que posso dizer ser o mais importante de tudo: o profissional acaba não efetuando o registro dessa situação.

Simplesmente por não identificar Desvio algum, muitos profissionais “deixam” de aproveitar a oportunidade de efetuar o registro, não produzindo, assim, “evidências” que demonstram duas situações:

a)  Que a Segurança do Trabalho está sendo aplicada por todos os níveis da organização.

b) Que a organização, por meio de suas políticas, possui atividades sendo realizadas com segurança.

Comparando com a situação inicial quando identificado um “Desvio”, podemos afirmar que o profissional de segurança acaba se preocupando em efetuar o registro de “DESVIOS” e não em registrar os “ACERTOS”, acabando por produzir evidências contra a empresa e nenhuma a favor.

Deve-se, sim, efetuar o registro tanto dos “Desvios” como das situações em que eles não são identificados, pois muito servirão na defesa em processos trabalhistas, treinamentos, estatísticas, entre outras aplicabilidades.

Pensando em uma rotina de trabalho básica, podemos, a partir desta, evoluir conforme as necessidades de cada segmento.

Sabemos, então, que essa rotina de Trabalho Básica deverá ser composta pelo menos das seguintes verificações:

1.     Inspeções de segurança com evidência para as condições de “Desvio” e para as condições em que “não são identificados Desvios”.

2. Acompanhamento e verificação do cumprimento das ações para adequação/correção dos “Desvios” identificados.

3.   Divulgação quanto as adequações para outras unidades (se existentes) que possuam condições de trabalho semelhantes, exercendo assim a “prevenção de acidentes”.

4.     Acompanhamento e verificação do cumprimento das ações previstas no PGR.

5.  Acompanhamento das rotinas diárias referentes às atividades de trabalho previstas, bem como na implantação de novas frentes, novos equipamentos, novas máquinas, novas ferramentas, novos processos e novos produtos químicos, efetuando as adequações necessárias quanto à documentação.

6.  Acompanhamento das rotinas diárias quanto às férias, a afastamentos, à previsão de treinamentos, a eventos promovidos pela Segurança e Medicina do Trabalho, SIPAT entre outras atividades.

7.   Acompanhamento e verificação das atualizações referentes a Segurança e Medicina do Trabalho, quanto a Portarias, Resoluções, Ordens de Serviço etc., do Ministério do Trabalho, verificando sua aplicabilidade no dia a dia do trabalho e nas documentações.

8.   Acompanhamento e verificação das atualizações referentes a Segurança e Medicina do Trabalho, quanto a Portarias, Instruções Normativas, etc., da Previdência Social, verificando sua aplicabilidade no dia a dia do trabalho, nas documentações e atualização do PPP.

9.    Acompanhamento e verificação dos exames periódicos, de mudança de risco, de retorno ao trabalho, admissional e demissional a serem realizados, bem como sua programação.

10. Atualizações no conteúdo dos treinamentos específicos e de integração, mantendo-os adequados a realidade da empresa e da legislação.

11. Acompanhamento no controle de treinamentos e integrações a serem ministradas na organização quanto ao agendamento, à preparação e aos responsáveis na aplicação destes.

Quando lidamos com a Segurança do Trabalho, temos uma falsa ilusão de possuir toda a documentação existente em perfeita condição, como se fosse invulnerável.

Esta sensação se sustenta infelizmente pelo fato do Ministério do Trabalho e Emprego, Previdência Social apresentarem uma fiscalização regular visto o contingente de profissionais para efetuarem tal serviço não ser suficiente, embora com o eSocial, tudo muda com o informe das informações de SST.

Mediante esta realidade, perguntamos:

— “Qual a margem de erro que podemos computar para que tenhamos uma condição que nos permita aparar a deficiência quanto a documentação?

Acaba sendo uma difícil tarefa, pois como podemos identificar esses erros de forma segura?

De forma a podermos melhor identificar estes erros, vejamos alguns pontos que o profissional de Segurança do Trabalho deveria observar:

o   Regularmente é realizada uma Auditoria Interna verificando o atendimento da organização quanto as legislações Trabalhista e Previdenciária;

o   Os documentos existentes foram analisados quanto a sua consistência, isto é, estarem atendendo o que preconiza cada NR aplicável, sem que possua divergências com os demais documentos.

o Existe um padrão de documentação? Caso positivo, este é atendido plenamente?

o Existem constantes demandas judiciais pleiteando Desvio de Função e Adicionais de Insalubridade / Periculosidade?

o   O seu Índice de Acidentes é elevado?

o   O seu Índice de Absenteísmo é elevado? Quais os motivos mais frequentes?

o  Ao utilizar Produtos Químicos, a sua Empresa possui todas as FDS (antiga FISPQ) atualizadas, disponíveis e divulgadas nas áreas.

o   O consumo de EPI’s em sua Empresa é elevado? Quais os EPI’s que mais são consumidos? Quais os motivos que geraram a troca?

o   Existem Projetos de Melhorias no ambiente de trabalho em andamento para as áreas com riscos ocupacionais? Eles estão contemplados no PGR?

o Os treinamentos necessários estão contemplados no PGR? Foram programados e executados em todos os níveis de sua organização?

o   Os níveis Gerenciais, Supervisão e demais cargos de Chefia são exemplos em Segurança do Trabalho para os trabalhadores e nos setores de sua organização?

o   Os profissionais de Segurança do Trabalho participam de Eventos, Cursos, Congressos ou de outros processos de melhoria profissional pelo uma vez ao ano?

o   Em uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, sua organização se encontra tranquila ou em condições adversas que permitem uma Notificação ou um Auto de Infração.

 

Com a aplicação desta lista fica muito mais fácil gerenciar sua margem de erro, elaborar uma rotina de Trabalho e sanar os Desvios em tempo, evitando complicações.

 

Por fim, será que planejar é difícil?

 

Em nosso dia-a-dia o planejamento de nossas atividades acaba sendo uma tarefa que beira ao impossível, passando pela dificuldade extrema e a muitos poucos a tranquilidade de estar preparado.

 

Mais como fazer um Planejamento?

                                                                         

Podemos partir de um exemplo de Planejamento de Ação Corretiva relacionado a um Acidente, cujo planejamento da implantação das ações corretivas deve seguir no mínimo os seguintes passos:

 

1.        Envolver todos os afetados para se obter uma solução.

2.        Determinar a execução das tarefas específicas e sua ordenação.

3.  Prover os recursos necessários a cada tarefa relacionada a solução do problema.

4.     Determinar o responsável ou responsáveis, bem como o tempo exigido para a conclusão.

5.  Identificar os resultados esperados em cada estágio da implantação da solução.

6.    Acompanhar e avaliar, escolhendo métodos de avaliação que melhor convir ao contexto.

Complementando, podemos aplicar uma outra análise que poderá trazer novos pontos que podem passar desapercebidos.

 

1.       Requisitos de Segurança

Quais os requisitos que o Ministério do Trabalho irá fiscalizar quando a ao cumprimento nas NR’s aplicáveis a sua empresa?

2.       Quais a Ameaças existentes (Riscos Ambientais)

Identifique os Riscos e analise as consequências que poderão acarretar aos funcionários e a empresa.

3.       Qual a sua Vulnerabilidade

Além dos riscos Ambientais, que outras condições existentes podem causar problemas, indenizações e auto de infração, analisando as NR’s aplicáveis.

4.       Desenvolvimento de Contramedidas

Verificar se as medidas adotadas para eliminação e/ou redução dos Riscos Ambientais e de outras condições existentes são eficazes ou necessitam de novos estudos e melhorias.

Com esta análise certamente será mais fácil efetuar o Planejamento de Ações, bem como determinar prazos e responsabilidades quanto as áreas e profissionais envolvidos.

Uma Rotina de Trabalho requer, antes de tudo, profissionais comprometidos em levá-la a sério, isso porque, em muitos dos casos, não adianta estar tudo no papel do que se tem de fazer e por fim não haver “evidência” de nada.

 

“Eu sou parte de uma equipe.

Então quando venço, não sou eu apenas quem vence.

 De certa forma, termino o trabalho de um grupo enorme de pessoas.”

 

Ayrton Senna

Piloto brasileiro de Fórmula 1

Comentários

Postagens mais visitadas